A consagração (e outras ideias)
A consagração é o ato (cerimónia, ritual) pelo qual algo (objeto, pessoa, espaço/lugar) é separado (retirado) do seu uso comum/profano e dedicado ao serviço de poderes, entidades, superiores/sagrados através das invocações, ritos, rituais ou cerimónias. O ato não tem uma conotação necessariamente religiosa no sentido em que o fenómeno religioso implica a noção de culto, de adoração, de veneração, de submissão a conceitos/princípios/crenças dogmáticas de fé, de hierarquias sacerdotais, de poder sobre os homens, de potencial controlo da vida e pensamento.
O termo “Religio”, do qual pode derivar “religião”, pode ter também a significação de valores ligados a uma consciência autónoma e crítica, mas de dever, a que devemos ser fiéis seguidores, sendo essa a “religião do maçom”.
O costume de consagrar pessoas, objetos e lugares pode remontar aos tempos mais antigos, existindo rituais de consagração desde o antigo Egito.
O templo maçónico, o lugar consagrado a coberto de indiscrições profanas, é o espaço onde ocorrem as sessões de uma Loja:., exigindo-se aí uma postura da mais elevada concentração e respeito. Como espaço destinado à comunicação com as dimensões ocultas da realidade a sobriedade da conduta é regra a não ser quebrada. A descontração deve dar lugar à leveza da focalização do/no momento.
A egrégora é o especial sentimento de grupo/corpo a que se pretende ascender, sentimento que nos ajuda a construir uma entidade/identidade coletiva e pessoal. Uma noção de pertença a algo maior que nós mas também é o “nós”. Tal só é passível de se efetivar se o necessário ambiente de recolhimento tiver lugar. Se no espaço do templo e no coração do maçom a “efervescência do fermento das paixões” estiver controlada. A paixão é forte mas efémera. O amor é mais perene, resistente ao tempo e seus infortúnios pois não tem o desgastante descontrolo desmedido do sofrimento inerente à paixão. É por isso que o laço que une todos os maçons, representado nos laços da corda que envolve o templo, são os “laços do amor”, do amor fraterno, puro, gratuito e permanente.
Este amor fraterno pode ser ainda mais forte que o amor familiar, pois a amizade pode ser escolhida, a família não.
David